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Grupo que vai assumir planos individuais da Amil quer dobrar carteira em dois anos

Novos controladores da APS (Assistência Personalizada à Saúde), que detém os planos individuais e familiares da Amil no país, querem dobrar a carteira da operadora atual de 330 mil beneficiários em dois anos, mirando em, mais adiante, subir ao posto de líder nesse segmento no país.

A transação, que ainda depende da análise e da aprovação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), prevê que a Fiord Capital e mais dois sócios assumam o controle da APS, recebendo um aporte de R$ 2,4 bilhões da Amil, além de quatro hospitais.

O UnitedHealth Group, gigante americano do setor de saúde, se prepara para deixar o país, afirmam fontes próximas à companhia. O movimento acontece dez anos após ter fincado bandeira no mercado brasileiro depois de ter comprado a Amil por quase R$ 10 bilhões.

— A operação prevê um aporte de R$ 2,4 bilhões de UHG/Amil. Perto de metade disso vai para constituição da reserva técnica (exigida pela legislação). O restante será usado para viabilizar o crescimento — explica Henning Von Koss, ex-executivo de operadoras como Hapvida, Medial e Amil, que participa da negociação, ao lado do Fiord.

Ao contrário do quem sendo sustentado, Von Koss afirma que a carteira de planos individuais e familiares da Amil não é deficitária:

— Ela tem um faturamento de R$ 3 bilhões, com uma margem operacional de quase 10%. É sustentável pelos números que tem, se paga. Essa carteira sai porque a Amil e o UHG não têm o mercado individual em seu DNA. O risco é se olhar no longo prazo e não fizer nada. Mas é lucrativa, tem potencial para crescer.

Von Koss afirma que as negociações tiveram início entre agosto e setembro, tendo havido concorrência com uma série de outros grupos e veículos de investimento. A aproximação veio por meio do economista Nikola Lukic, sérvio e naturalizado brasileiro, ex-executivo da Starboard, que atuava junto a negócios em dificuldades, como a Máquina de Vendas, dona da Ricardo Eletro, além de outros como com 3R e Ouro Preto, do setor de petróleo, e Gemini Energy.

Em novembro passado, ele abriu a Fiord. A participação do fundo na negociação levantou temores no mercado, já que e empresa ainda não conta com sede fixa e teria sido constituída com o propósito de entrar na transação com a Amil. Lukic nega esse movimento, destacando já ter fechado um primeiro contrato — embora diga não poder relevar qual é — e que o foco é criar um portfólio variado de negócios, sempre em parceria com sócios com experiência na área do ativo investido

O terceiro integrante do grupo é a Seferin & Coelho, holding da Rede de Hospitais e Centros Clínicos LifePlus. Cláudio Seferin atua há mais de 40 anos na gestão de hospitais públicos e privados, era sócio-diretor da operadora LifeDay Saúde até o fim de 2020, quando foi vendida ao grupo GNDI. Daniel Coelho é especializado em gestão de saúde, tendo trabalhado em operadoras, laboratórios e entidades do setor.

A proposta é que, na nova composição de capital, a Fiord e a Seferin & Coelho fiquem com 45% de participação, cada uma. Os 10% restantes serão detidos por Von Koss. De início, haverá uma gestão em conjunto, combinando as áreas de expertise de cada um. E, na sequência, a meta é buscar um gestor profissional no mercado.

Questionamentos sobre os novos sócios e a estrutura da nova operadora levantaram temores entre os usuários desses planos da Amil, da ANS e de órgãos de defesa do consumidor. A negociação foi travada pela agência, que argumenta não ter recebido informações ou documentações relacionadas à negociação.

Paulo Rebello, presidente da ANS, afirmou que até fim da tarde de ontem a agência não havia recebido informações de Amil e APS sobre a operação.

— Nos reunimos com representantes da Amil na última terça-feira, mas eles não prestaram os devidos esclarecimentos sobre a transferência de controle da APS. Mencionaram a existência de investidores, sem juntar documentos solicitados. Por não dispormos das informações, interrompemos a transferência do controle — frisou.

Para garantir a manutenção da estrutura atual de operação da APS e o atendimento dos beneficiários, a negociação prevê duas medidas acertadas em contrato com a Amil.

— A APS vai contratar a Amil para fazer o back office (a gestão da operação) por um período de seis meses, que pode ser renovado por mais seis. Em paralelo, vamos construindo a nossa gestão. Outra coisa é que haverá manutenção da rede credenciada, tando da Amil quando de terceiros, por cinco anos — destaca Von Koss.

A estratégia inicial desse novo grupo é expandir a carteira da APS no mercado em que a empresa já está consolidada e com rede disponível, ou seja, São Paulo, Rio e Paraná. Outro foco é dobrar o número de usuários em dois anos, com o objetivo de futuramente ser a maior operadora atuando exclusivamente de planos individuais e familiares. Segundo Henning, essa é a forma “mais simples, mais rápida e mais eficiente” de crescer.

— Nascemos uma empresa grande, afora as Unimeds, que vendem planos individuais no Brasil hoje assim como Prevent Senior e Hapvida. Não tem mais ninguém nesse nicho, o que mostra uma distorção do mercado. Existe uma demanda disposta a comprar esses planos — afirma o executivo.

Com foco nos consumidores no centro da pirâmide, as classes B e C, os executivos pretendem atrair novos usuários com a oferta de produtos variados. Hoje, a mensalidade média é de R$ 1 mil para o beneficiário.

— A ideia é oferecer planos fechados em um grupo de municípios, estadual ou regional, com um grupo ou outro de hospitais, para o cliente poder escolher o que melhor cabe no seu bolso — explica Coelho.

Apesar de nascer com uma rede própria de quatro hospitais vindos da Amil, três em São Paulo e um no Paraná, a verticalização não está nos planos dos novos executivos da empresa, que já começaram as conversas preliminares com potenciais parceiros para a APS.

— Temos um trabalho de longa data de relacionamento com as grandes redes. E sabemos que não é preciso ter a propriedade (de hospitais e clínicas) para ser competitivo. Há vários modelos de parceria, com compartilhamento de risco, várias formas que poderão vir a ser trabalhadas — explica Seferin.

Ainda que a plataforma seja robusta já de largada, em vidas, hospitais e rede credenciada, Henning admite que o salto para mais de 660 mil contratos vai exigir nova capitalização.

— A Fiord vai atuar nessa gestão financeira, com capacidade para fazer captações. Mais para frente, ainda não sabemos como será, se será um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês), via um investidor privado. Isso ficará a cargo do Nikola avaliar a melhor janela de oportunidade.

Uma vez concedido o aval à operação, o trio de sócios já tem planejamento estratégico traçado, o inclui o lançamento de uma nova marca, que substituirá o nome APS, Henning. O primeiro passo, contudo, será ouvir e sanar questões levantadas pelos beneficiários:

— Queremos entender o que de fato está acontecendo (em relação a reclamações de atendimento e rede credenciada), se houver problemas de rede, vamos tentar resolver. O plano individual é um porto seguro para o consumidor, as pessoas não querem perder isso e queremos que elas entendam que nosso mercado são os planos individuais e que serão pessoas cuidando de pessoas — frisou o executivo.



15/02/2022